quarta-feira, 24 de abril de 2013

O mito da modernidade

Ruth Guimarães

De acordo com a voz do povo, progresso é: emprego para todos, não importa qual, fábricas, não importa de quê, e acesso indiscriminado a bens de serviços e outros. Quantos mais puderem comprar geladeiras, ventiladores, celulares, tapetes, fornos microondas, mais estaremos progredindo (Não se fala em livros). Progresso é nascerem 80 crianças, 10 de parto normal e 70 de cesariana. São os apartamentos, os tri-empregos. A correria. E os etcs. todos. 

Costura, horta, o fundo de quintal, a couve e o mentruz, construção artesanal, galinheiros, bancos e cadeiras feitos em casa, isto já era. 

Sugiro outro conceito de modernidade: 
Modernidade é realmente o treinamento do consumidor para o desfrute do inútil. De onde decorrem n males: 
O hábito de velocidades violentas; 
O estado gerador de padrões de produção; 
A política militarizada, ou o estado policial. 

A verdadeira pobreza consta da ausência de esclarecimentos e da falta de poder profissional. Daí vem a não criatividade. As leis ajudam a abafar no nascedouro as disposições profissionais. 

Ninguém combate a verdadeira pobreza, procura-se, isto sim, disfarçá-la, enganá-la, aliciá-la, com cigarros, modas vistosas, com água e luz elétrica nas favelas. O pobre é mantido, diz-se que está assistido. E como vai se alienando, está justificado por sua inércia e comodismo. O que quer é sossego. É viver em paz. PAZ com todas as letras maiúsculas. E que Paz? A vida é uma guerra. O próprio Cristo, considerado pacífico, e que se dizia manso e humilde de coração, declarou abertamente que não veio trazer a Paz. “Vim trazer a Espada.” 

É dessa guerra que eu falo. A do Cristo. A de Sócrates. A de Oswaldo Cruz. 

O que é necessário combater? Em primeiríssimo lugar, vamos acabar com a insatisfação do pobre em sua pobreza patrocinada, para que, não se sentindo bem, procure sair da lama onde está. 

Sem patrocínio, sem esmolas, sem humilhação. Sem pular de um beco sem saída para cair em outro. O povo está pronto a endossar a pena de morte. Virá a pena de morte. Para quem? Quem sabe sequer os nomes dos responsáveis pelos crimes contra a Previdência, e outros? Não chega o que já nos fazem: - a morte cavilosa e clandestina, nos fundos das delegacias. Agora possivelmente teremos a pena de morte, legalmente. Com efeito. 

Outro mito a combater é a ideia de que nos tornamos importantíssimos com a modernidade e podemos atingir qualquer meta, comprando bens e serviços. Somente bens, e serviços, veja bem. Nada que se possa chamar alma e nada que possa chamar de dignidade, bens que não se compram, mas que temos de aprender a conquistar. Em nenhum dos modelos econômicos, ou não, conseguimos vislumbrar valores não mercantilizáveis. 

As mercadorias podem substituir até certo ponto o que a pessoa criar por si mesma. Além disso, a moda do uso de certo produto se deteriora facilmente. A quantidade de bens entregue diminui o valor desses bens. É tudo igual, o que repugna à criatura humana, mesmo à de cérebro lavado. 

Antes de sermos clientes, somos pessoas. 

E como estamos melhorando a pessoa? Onde a saúde? Onde a Educação?

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto

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