segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ruth Guimarães: Roteiro de Vida

Nunca é demais se lembrar da querida escritora Ruth Guimarães, um símbolo da literatura brasileira pela originalidade e pela força de expressão. Um ícone cultural vivo que representa e resgatar os usos e costumes da região valeparaibana. E assim, é interessante ressaltar rapidamente um pouco de suas ideias, no sentido de chamar atenção sobre sua produção literária e sua contribuição para a história. Numa publicação de março de 2008, da Revista Negras Palavras, edição nº 2, produzida pelo Museu Afro Brasil, a escritora explicita sua maneira peculiar de entender a literatura e como produz suas obras através de sua visão e experiência das coisas. Um jeito de Brasil interiorano, com refinado tom de especialização e inúmeras marcas de um passado que transcende ao pouco o nosso conhecimento sobre a região. Chamam atenção no depoimento, dentro do projeto “Roteiros de Vida”, dois pontos importantes e intrinsecamente ligados com a história. O primeiro deles sobre a língua portuguesa e o segundo sobre o seu posicionamento frente ao conjunto de sua obra. A autora é enfática ao alertar sobre a necessidade de aprender bem a língua pátria, recomendado aos novos escritores algumas atitudes fundamentais para o exercício da literatura. Diz Ruth: “se alguém vai escrever um livro, que leia os bons autores, que assista aos bons filmes, que converse com gente que sabe falar [...] emocionalmente a pessoa tem que estar apta”. 
Ou seja, é fundamental para aquele que se aventura nos mundos das letras conhecerem as diversas produções culturais da humanidade, como forma de conhecer as mais diversificadas linguagens. O português expresso e escrito corretamente é condição expressa para transmitir ideias compreensíveis para o público, através de uma linguagem fluída, independente do estilo. Sobre a produção literária e sua relação com o público leitor e a educação no Brasil a escritora dá sua opinião, reverberando verdades incontestáveis: 
“nós brasileiros estudamos literatura de uma forma desorganizada; a gente ler o que quer .... os professores dão um texto aqui, outro ali, nada sistematizado, com um sentido e programação. Quando chegamos ao fim [...] temos uma formação mista; assim como somos um povo mestiço [...] a nossa literatura também é toda feita de pedaços de textos, de arrumações aqui e ali. Não há nada que nos torne inteiriços, inteiros.” E arremata “ como eu sou brasileira, nesse sentido de brasileiro todo um pouco para lá, um pouco para cá [...]” (p. 41) E finaliza destacando a necessidade de uma literatura negra, chamando a atenção para a necessidade de que é preciso conhecer a raiz negra de onde viemos e que a história negra está por fazer, e que está pesquisando e tentando fazer um fabulário brasileiro, não somente entre negros, mas entre o povo (p. 42). Sobre sua obra prima “Água Funda”, diz ser a obra o resultado dos acontecimentos na vida de cada um. E sublinha: “o que deu magia ao meu livro foi a minha atitude diante da vida. Isto é a minha magia” (p. 42). E a “ideia que eu tive [de] escrever de um jeito que os outros não estavam escrevendo”. O resultado segundo ela, um livro de “linguagem mais simples, mas sem perder a estrutura do portugues” (p. 43). Somente pelas poucas ideias aqui destacadas se vê a profundidade de seu conhecimento; o seu discernimento e a sua conduta diante da vida e da literatura. Não é preciso dizer mais nada. 

Referência: MUSEU AFRO BRASIL. Dois dedos de prosa. In: Negras Palavras, ed. 2, mar. 2008, p. 40-44.

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